NOSSA HISTÓRIA

A RETOMADA DA PROPOSTA DE CRIAÇÃO DO POLO TECNOLÓGICO EM NOVA FRIBURGO

Alternativas para o desenvolvimento socioeconômico futuro, baseadas na expressiva formação universitária em engenharia e sistemas

No primeiro quartil do século XX, Nova Friburgo vivenciou profundo processo de industrialização com a vinda de importantes empresas do setor têxtil, alterando profundamente sua história e reorganizando seu território. Entre 1911 e 1925, foram estabelecidas plantas industriais das fábricas (M. Sinjen & Cia)/Rendas Arp (1911), Ypu S.A. (1912) e Filó S.A. (1925), viabilizadas pelo processo de eletrificação da Cidade, a partir daquele mesmo ano de 1911, com a implantação da “Empreza de Electricidade Julius Arp & Cia” (posteriormente CENF e hoje ENERGISA), à época do pioneiro industrial alemão Peter Julius Ferdinand Arp (1858-1945).

Tais empreendimentos geraram milhares de empregos, durante décadas, contribuindo para a formação de mão de obra de qualidade; auxiliaram na estruturação de bairros, regiões e comunidades com bons padrões de qualidade de vida e desenvolvimento humano; e, quando entraram em crise, em especial as duas últimas, contribuíram de formas diferentes para o surgimento de novas alternativas econômicas, educacionais e sociais.

De seu perfil originalmente rural (sua História de raízes europeias teve início exatamente nos projetos suíço e alemão, ambos trazendo colonos para atividades agrícolas à Cidade industrial e operária, baseada nas “três empresas de grande porte”, às quais se uniu a Ferragens Haga (iniciativa dos engenheiros Frederico Sichel e Hans Gaiser), em 1937, Nova Friburgo já possuía atividade fabril, a partir de 1898, ano em que o Indicador Friburguense apresentava dados estatísticos,  entre os quais apontavam: sete pequenas indústrias (basicamente de produção de bebidas e alimentos); 11 empresas construtoras; 32 oficinas e 81 lojas comerciais (a,b)

Ao longo dos anos, pós-industrialização, verifica-se a proliferação de centenas de micro e pequenos empreendimentos, tanto em função da demissão e/ou busca de novas oportunidades e alternativas por parte de ex-funcionários das chamadas “4 grandes”, quanto pela existência de importante instituição de formação técnico-profissionalizante, o SENAI, que completou recentemente 70 anos de existência[1], período em que contribuiu com excelente formação técnica para milhares de profissionais: muitos ex-alunos da instituição também criaram seus próprios negócios na cidade e região, fortalecendo-a como polo metal-mecânico.

Além da indústria, Nova Friburgo também exerce papel de destaque nos setores de agricultura, turismo, comércio e serviços em geral, caracterizando-se como polo regional no Centro-norte fluminense. Entendemos que tal diversidade vem contribuindo para certa estabilidade na oferta de empregos na cidade, mesmo em meio à mais grave crise econômica enfrentada por nosso país no último quadriênio. Considerando que avança cada vez mais o acesso às novas tecnologias de comunicação e informação, as quais vêm sendo incorporadas às estratégias empresariais, inclusive junto a empreendimentos de micro e pequeno porte, bem como pelo expressivo crescimento do sistema universitário em Nova Friburgo, objetivamos estruturar, em parceria interinstitucional, a retomada da ideia de criação de polo tecnológico, a exemplo do que ocorreu em várias partes do mundo e também em várias regiões do nosso país. Cidades de pequeno e médio porte vêm se notabilizando ao estruturarem ecossistemas de inovação, integrando instituições de ensino, iniciativa privada e instâncias governamentais na busca de novas alternativas de desenvolvimento baseadas no conhecimento gerado nos bancos acadêmicos.

Essa proposta não é de hoje: há quase 30 anos, no início dos anos de 1990, diversas instituições sediadas em Nova Friburgo e seus respectivos líderes começaram a sonhar com a possibilidade de criação de um polo de informática. Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo (ACIANF), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), governo local (Prefeitura Municipal e Câmara de Vereadores) , Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN) e o Instituto Politécnico do Rio de Janeiro (IPRJ – órgão de pesquisa vinculado ao governo estadual, então recém-instalado na cidade) iniciaram articulações visando estruturar um polo de software, logo após a derrubada da reserva de mercado[2]. Um dos resultados imediatos foi a realização de 7 edições das Feiras de Informática (INFRIBURGO), voltadas à popularização do uso de equipamentos e sistemas de informação, que contaram com os importantes apoios e parcerias da IBM Brasil, ITAÚ e BANCO DO BRASIL, além do CECIERJ – Centro de Ciência e Tecnologia/Governo RJ, quando inclusive foi criado o ‘Ônibus da Informática’ – unidade móvel adaptada ao ensino da computação/informática, que percorria unidades de ensino das redes Municipal e Estadual. Na Imagem 1 , constante de informativo da ACIANF a respeito do evento, são apresentadas características e intenções apresentadas pelos atores então envolvidos. Uma das principais, o foco no desenvolvimento de programas de computador.

Imagem 1 – Trecho do informativo da ACIANF divulgando a 1ª INFRIBURGO, realizada em 1991

Fonte: Arquivos pessoais do jornalista Girlan Guilland (2018)

Como desdobramentos importantes decorrentes de tal mobilização, podemos citar a estruturação de curso de informática junto à Faculdade de Filosofia Santa Doroteia, desativada em 2011; o esforço interinstitucional que viabilizou a incorporação do IPRJ à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com a posterior implantação dos cursos de graduação em Engenharia Mecânica e de Computação e de mestrado e doutorado em Modelagem Computacional; e a criação da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica junto à própria UERJ. Com isso, além da vinda para Nova Friburgo, em 2008, de uma unidade/campus do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET), e a consequente implantação do curso superior em Sistemas de Informação e curso técnico de nível médio em Informática. Outro curso de graduação na área tecnológica trazido mais recentemente pelo CEFET foi o de Engenharia Elétrica.

A própria Universidade Estácio de Sá, instituição com a maior oferta de ensino superior na cidade, implantou seu campus na cidade em 1996 através da criação de 2 cursos: Direito e Análise de Sistemas. Esse último, também voltado à formação de profissionais para o segmento de Tecnologia de Informação. Embora nem todos os cursos citados tenham surgido diretamente como resposta à proposta original de criação do polo de software, até porque muitos dos seus idealizadores não chegaram a participar daquele movimento ou mesmo nem tiveram ciência de sua existência, importante ressaltar uma das principais deficiências que inviabilizaram a estruturação do polo à época, e que foi superada ao longo desse período: a carência de profissionais qualificados para atuação no setor. Estimamos que tenham sido ou estejam em formação cerca de 1.500 a 2.000 profissionais em áreas como engenharias, sistemas e modelagem computacional, desde meados dos anos 1990. Também houve crescimento expressivo na quantidade de empresas que atuam no setor em Nova Friburgo: de pouco menos de 20 empresas quando da realização da 1ª InFriburgo, atualmente são cerca de 60 micros e pequenas empresas atuando no segmento de tecnologia de informação em suas diversas áreas (sistemas, consultoria, acesso à internet etc.).

Outros desafios existem, portanto, para que saia do papel o sonho de tornar o conhecimento e a tecnologia como molas propulsoras do futuro de Nova Friburgo, a exemplo do que ocorre com cidades de porte até menor, como é o caso de Santa Rita do Sapucaí (MG)[3], Campina Grande (PB)[4] e São Carlos (SP)[5], para citar apenas alguns dos exemplos bem-sucedidos no país de fortalecimento econômico a partir do desenvolvimento científico e tecnológico.

Há ainda esforços em curso para integrar no que se denomina de Parque Tecnológico da Região Serrana, os municípios de Nova Friburgo, Teresópolis (que conta com uma das maiores empresas do setor no país, a Alterdata) e Petrópolis (que viabilizou a implantação do projeto Petrópolis Tecnópolis, aproveitando a estrutura técnica e institucional do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). Recentemente, a empresa Alterdata Software, uma das maiores do setor no país, decidiu instalar em Nova Friburgo um Centro de Desenvolvimento de Software, fortalecendo o movimento ora em curso[6]. Importante destacar ainda o movimento denominado Serra do Silício, que se desenvolveu nos últimos anos em Nova Friburgo, a partir de iniciativa de diversos empreendedores da área de tecnologia de informação, também desejosos de fomentar o setor, os quais estão integrados à iniciativa ora em curso.

Diversos eventos vêm sendo realizados ao longo dos últimos meses, dentre eles o “1º Encontro de Profissionais de Tecnologia de Informação”, ocorrido em 23 de agosto, no qual participaram cerca de 100 pessoas, entre estudantes, profissionais, empreendedores e representantes de instituições como ACIANF e SEBRAE. Ainda no segundo semestre de 2018, foi realizado o primeiro HACKING SERRA, maratona de programação com orientação e tutoria oferecidos por diversas entidades, para dezenas de jovens dos municípios serranos, buscando soluções técnicas baseadas em TI voltadas aos conceitos de Cidades Empreendedoras e Cidades Inteligentes. Cerca de 10 jovens friburguenses, alunos e alunas do CEFET e UERJ, participaram do evento.

Com o apoio do SEBRAE e a participação de diversas entidades comprometidas com o desenvolvimento local e regional (FIRJAN; SENAI; SINDUSCON; SINDMETAL; SINDVEST; Câmara Municipal de Nova Friburgo; Serra do Silício; Instituto Pindorama; UERJ-IPRJ; CEFET; Estácio; Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da UERJ; Geração Júnior, a empresa júnior dos estudantes da Estácio e Serra Jr. Engenharia (empresa júnior da UERJ), entre outras, vem sendo realizado, desde dezembro de 2018, o Planejamento Colaborativo do Ecossistema de Inovação e Tecnologia a fim de estruturar e organizar os esforços de cada instituição visando a criação do polo tecnológico friburguense, aproveitando o enorme potencial humano desenvolvido ao longo dos últimos 20 anos no campo da informática na cidade. O sonho não acabou. Pelo contrário: está mais vivo do que nunca.

Alinha-se a essa visão a possibilidade de estruturação de parceria com o governo suíço, decorrente de visita realizada pelo prefeito de Nova Friburgo, Renato Bravo, durante os festejos comemorativos pelo transcurso dos 200 anos da edição do decreto fundação da cidade por Dom João VI. Parcerias entre universidades suíças e brasileiras, notadamente as que mantém unidades em Nova Friburgo, deverão ser construídas através da mediação do governo municipal buscando alavancar projetos de inovação e oportunidades de pesquisa para jovens universitários friburguenses, em especial as de natureza aplicada e que contribuam para o desenvolvimento socioeconômico local e regional. Está prevista visita de delegação friburguense à Suíça ainda em 2019, para formalização dos convênios de cooperação técnica.

 

 

(a) Fonte:  ‘ACIANF – Tempo e Memória (Élica Estebanez, 2017), edição comemorativa do Centenário da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo.

(b) anexar quadros com dados/informações numéricas… (fotos enviadas por e-mail/wpp)

[1]                     A VOZ DA SERRA. Disponível em: https://avozdaserra.com.br/noticias/senai-festeja-70-anos-de-atividade-em-nova-friburgo. Acesso em: 30 set. 2018.

[2]                     Reserva de mercado. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Reserva_de_mercado. Acesso em: 30 set. 2018.

[3]                     Pequena Santa Rita do Sapucaí desponta como polo tecnológico. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2012/10/04/pequena-santa-rita-do-sapucai-mg-desponta-como-polo-tecnologico.htm>. Acesso em: 1º out. 2018.

[4]                     Polo internacional, Campina Grande é celeiro de profissionais de tecnologia. Disponível em: http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2014/10/polo-internacional-campina-grande-e-celeiro-de-profissionais-de-tecnologia.html>. Acesso em: 1º out. 2018.

[5]                     A primeira safra de startups de São Paulo. Disponível em: https://link.estadao.com.br/noticias/inovacao,a-primeira-safra-de-startups-de-sao-carlos,70002193283. Acesso em: 1º out. 2018.

[6]             Friburgo terá Centro de Desenvolvimento de Software para profissionais de TI. Disponível em: https://avozdaserra.com.br/noticias/friburgo-tera-centro-de-desenvolvimento-de-software-para-profissionais-de-ti. Acesso em: 04 fev. 2019.